quarta-feira, 29 de julho de 2020

Deputados da bancada evangélica agem contra tese de abuso religioso

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    Camila Turtelli e Rafael Moraes Moura
    O Estado de S. Paulo
Deputados da Frente Parlamentar Evangélica, conhecida como bancada evangélica, iniciaram uma ofensiva para barrar a possibilidade de o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) punir o abuso de poder religioso.

O grupo pressiona os presidentes do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), e da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e conta com o apoio do presidente Jair Bolsonaro. Os deputados também apostam na mobilização de fiéis para evitar o avanço da medida, que retornará ao centro do debate do TSE em agosto.

Na semana passada, deputados da frente evangélica tiveram audiências com Maia e Alcolumbre. Nos dois encontros, os evangélicos pediram apoio com o argumento de que a punição ao abuso de poder religioso pode colocar em risco a liberdade de culto.

“É mais uma vez o TSE tentando usurpar competência (do Congresso) e inventar o que não existe”, disse ao Estadão o deputado Sóstenes Cavalcante (DEM-RJ), um dos mais atuantes da frente. “Temos, na legislatura, limites claros para ambientes públicos e inclusive para ambientes religiosos”, afirmou.

O assunto também foi discutido em jantar que reuniu cerca de 30 parlamentares, na semana passada, em um restaurante no centro de Brasília.

O TSE iniciou no fim de junho a discussão sobre incluir o abuso de poder religioso como motivo para a cassação de políticos. Atualmente, o tribunal entende que apenas o abuso de poder político e econômico pode resultar na perda do mandato. O debate, levantado pelo ministro Edson Fachin, ainda está em fase inicial, mas já provocou forte reação nas redes sociais e mobilizou aliados de Bolsonaro que veem uma “caça às bruxas”.

Três ministros do TSE ouvidos reservadamente pela reportagem avaliam que o desfecho da discussão é imprevisível. O principal ponto é o estabelecimento de um novo tipo de abuso que seja punível eleitoralmente – um debate considerado “muito delicado” e “disputado” pelos magistrados. Para um ministro, que pediu para não ser identificado, trata-se de um tema novo, ainda sem jurisprudência firmada.

Na avaliação do deputado e líder religioso Marco Feliciano (Republicanos-SP), a legislatura atual já abarca regras para punir abuso de poder religioso durante as eleições. “São claras e estão em lei: não pode fazer campanha dentro das igrejas e tampouco usar do aparato da organização religiosa em favor de um determinado candidato. O TSE não pode e não deve legislar, pois isso é competência do Congresso”, disse ele.

Para o deputado, o que não pode haver é uso das organizações religiosas para subverter a igualdade entre os competidores nas eleições. “Mas esperar que um evangélico não possa votar em um pastor que defende seus valores é tornar o brasileiro que professa essa fé um cidadão pela metade, um incapaz que deve ser tutelado pelo Estado.”

Limites

O processo em análise no TSE gira em torno da vereadora de Luziânia (GO) Valdirene Tavares (Republicanos). Pastora da Assembleia de Deus, ela é acusada de usar a posição na igreja para promover a sua candidatura, influenciando o voto de fiéis. Valdirene foi reeleita em 2016.

Relator do caso, Fachin votou contra a cassação da vereadora, por concluir que não foram reunidas provas suficientes no caso concreto para confirmar o “abuso de poder religioso”. No entanto, fez uma série de observações em seu voto sobre a necessidade de Estado e religião serem mantidos separados para garantir a livre escolha dos eleitores. Ainda propôs a inclusão do abuso de poder de autoridade religiosa em ações que podem, eventualmente, levar à cassação de mandato de políticos – de vereadores a presidente da República.
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EDITOR: verified_user

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